sábado, outubro 11, 2014

Música celestial


   Eis um assunto que jamais chegará a seu fim até a vinda de Cristo, sendo amplamente conversado no meio do povo de Deus: a música.
     No entanto, pretendo passar longe dos pontos comumentes abordados e carregados de polêmica, muito embora, até o fim do post será difícil não ter passado por algum "campo minado". 
     Se o diálogo sobre música produz tantos efeitos colaterais, certamente é porque esta tem grande relevância e participação na história do homem. Tanto assim é, que a música tem seu destaque logo nos primeiros capítulos da Bíblia, em Gn.4:21, quando se realça o nome de Jubal, sendo este "o pai de todos os que tocam harpa e flauta". Também, no novo testamento, lemos em Efésios 5:19 "entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais". Assim, não devemos desprezar ou ignorar o interesse que temos pela música, pois a mesma está intimamente presente tanto na existência humana quanto espiritual.
     No ano de 1999, houve uma transição na minha maneira de pensar. Deixei de enxergar Jesus apenas como "Salvador" e passei a conhecê-Lo como "Senhor". Foi quando o termo "reino (governo) de Deus, passou a fazer sentido para mim. A partir daí, pude ouvir e meditar em canções que tinham como base um forte posicionamento bíblico, e não apenas a fundamentação em experiências emotivas e místicas. Também havia uma troca de centralidade: enquanto muitas canções apontavam para o homem e seu bem estar, a música "do reino" visava a glória de Cristo e Seu propósito a cumprir-se.
     Para todo irmão e irmã que estavam buscando uma vida de entrega total, havia ainda um bom grupo de representantes de músicas que exaltassem a Jesus com ações de graças. Nos últimos anos, porém, temos visto o crescimento da participação da indústria secular no meio musical cristão. Não apenas gravadoras consagradas, mas, até mesmo dentro das gravadoras cristãs, vimos o desenvolvimento das práticas seculares, outrora tão distantes, agora levantadas como bandeiras: shows, cachês, relação artista/público substituindo  a relação serviço/vida no corpo de Cristo. Uma Babilônia que tem contribuído com o sectarismo e sustentação na instabilidade das emoções, acima da razão bíblica. 
     Antes que esqueça de mencionar, não tenho como intenção a condenação da utilização de gravadoras e serviços técnicos para a divulgação de um trabalho que glorifique a Cristo. A meu ver, a avaliação coerente está em fazer como dito por Paulo em 1 Coríntios 7:31: "os que se utilizam do mundo, como se dele não usassem". Vinculamos este texto à menção que o nosso Senhor Jesus faz ao Pai, quando diz "eles não são do mundo, como também eu não sou" (Jo.17:14-16), e estaremos pisando neste mundo com todo cuidado que um estrangeiro tem ao chegar a um lugar que não é o seu ambiente natural.
     Mas o que tem me inquietado nestes últimos tempos é a dificuldade que identifico ao não ver músicas de verdadeira edificação chegando aos lares. Não vejo ausência de música de qualidade, mas vejo a dificuldade de elas serem conhecidas, salvo quando através de nomes já consagrados. Estive há duas semanas em Recife, aonde pude ter comunhão com alguns músicos cheios da graça de Deus, como Joel Jordão, Dinho Santos, Sérgio Lima Júnior, Raphael Isah, Ricardo Sorriso. Só os irmãos mencionados aqui tem dezenas, talvez milhares de trabalhos gravados somados. Sei que na região em que residem o trabalho deles é bastante conhecido, mas não vemos o acesso de suas canções em todo Brasil. Além deles, posso citar irmãos de Minas Gerais, Rio, São Paulo que também encontram dificuldade de divulgação dos seus trabalhos. E se, nestes estados citados vemos a inviabilidade da divulgação, a realidade daqui pra lá também é verdadeira.
      Para todos os que, como eu, se aventuram a gravar um cd, dentre todo o grande desafio que é gravar deve-se considerar igualmente o peso da divulgação e comercialização. E aqui surge a relação cíclica injusta: para gravar um bom trabalho, é preciso um bom estúdio com bastante tempo disponível, bons técnicos de gravação, mixagem e masterização, um excelente produtor musical, excelentes músicos, um bom profissional para fazer a arte, e uma boa empresa de prensagem dos cds. Então, para se ter um cd top de linha, precisa-se de uma reserva financeira altíssima, o que muito poucos homens e mulheres de Deus tem. E, uma vez aplicado este recurso, ele precisa no mínimo se pagar. O ideal entretanto é que sejam vendidos mais cds para custear o próximo trabalho. É a crueldade necessária do sistema. Então, a maioria de nós grava um cd com qualidade inferior ao que deseja, e acaba sendo discriminado por fazer um trabalho que peca por suas necessidades. Enquanto isto, o artista evangélico que cobra seus 30, 40, 50 mil de cachê, que pode gravar suas canções até em Londres se quiser, mixa e masteriza seu trabalho nos EUA polindo sua voz até a condição que considera perfeita, se recolhendo em camarins logo após seu show, sendo este então reconhecido como "ungido" e "com o chamado". Assim, encontramos cada vez mais dificuldade em encontrar músicas que glorifiquem a Cristo nas lojas cristãs.
     Embora tenha plena paz pessoal quanto a este assunto, pois minha vocação é a de ser discípulo de Jesus em tudo o que eu fizer, proponho no mínimo o debate sensato, para juntos, buscarmos de Deus sabedoria na aplicação dos recursos que Ele nos tem confiado. Quem sabe, podemos crescer em viabilizar a música do reino uns para os outros? 
Com amor, Samir

Nenhum comentário: